Andamos sempre a morder caroços quando devemos saborear as cerejas, diz o Jorge, eu só imito. Mas é um bom mote para chegar ao meu tema preferido: relações! Amorosas sim, obrigado por perguntares. Há outras?
Olha, vou partir do pressuposto de que tudo na vida tem um fim. E refiro-me às relações, sim dessas. Bom, como eu estava a dizer, as relações têm um tempo que é limitado embora variável: 1 minuto, 1 noite, 1 ano, 5 anos, 10 anos... 20 (?)... mais já será demais? Não digo com isto que um casal não possa estar junto muito tempo e até viver bem com isso, se bem que hesito quando penso acerca da verdade dessa relação. Sabes, a linha entre o amor e o hábito é ténue...
O segundo pressuposto, este sim inquestionável é o facto de precisarmos de nos relacionarmos constantemente, de sermos incapazes de estarmos e existirmos sozinhos. Ainda bem que assim é! É sinal de saúde! E mais, isto não implica que não precisemos de saber estar sozinhos de quando em vez, até sabe bem e é também bom indicador dessa mesma sanidade.
Agora, desde o momento em que nascemos até ao que morremos, estamos ávidos de relação. E não é só no humano que é assim. Desde a rola até ao
saguim, da sardinha ao escaravelho, todos se relacionam e necessitam dessa relação.
Eis senão quando nos surge o mais grave problema da condição
homo sapiens: "se eu preciso disto, e eu sei que isto acaba, o que é que eu vou fazer para contrariar uma ou ambas as premissas anteriores? Grande pincel!"
E não é que evoluímos para nos metermos nesta alhada!? Senão vejamos: primeiro não conseguíamos estar em pé, então
desenvolvemo-nos para sermos
erectus, assim podemos ter os braços livres para abraçar - tudo bem; depois precisámos de nos tornar
habilis e construímos instrumentos, coisas, que permitiram que o outro se aproximasse mais de nós – super fixe! Mesmo assim não foi suficiente. Precisámos de mais, de sermos “
sapiens”, espertalhões, para encontramos estratégias que fizessem com que os outros gostassem ainda mais de nós, com que não se afastassem de nós. E claro, inventámos truques, estratagemas e
manigâncias. Como é óbvio, complicámos tudo.
A maior parte de nós não sabe disto, ou então já se esqueceu. Mas é só preciso gostar, sentir e deixar que gostem de nós. O Homem tem medo! Tem medo de gostar de mais e que gostem de menos. Tem medo de gostar de menos e depois tem culpa, tem medo porque tem medo e enlouquece porque os outros não gostam dele! Tudo muito complicado. Tudo muito muito! É preciso sair do buraco em que vivemos, sair do mundo em que não nos sabemos relacionar. Voltar ao tempo em que sabíamos brincar, sabíamos estar com o outro sem complicar. Só porque é demasiado bom “estar com”. Ter no amor, na paixão, na cumplicidade, na verdade, na partilha, na empatia, na adaptação e descoberta mútua os ingredientes de uma iguaria que se come a dois. Urge voltarmos a ser pequenos – sim, porque os pequenos sabem como se faz – para sermos mesmo sabendo que cada espaço de amor tem um fim. Só assim podemos degustar aquele que gosta de nós, que sabe ser, que sabe existir e que quer existir connosco. O máximo de tempo possível.