domingo, 22 de março de 2009

Zzzztá!

Andamos sempre a morder caroços quando devemos saborear as cerejas, diz o Jorge, eu só imito. Mas é um bom mote para chegar ao meu tema preferido: relações! Amorosas sim, obrigado por perguntares. Há outras?

Olha, vou partir do pressuposto de que tudo na vida tem um fim. E refiro-me às relações, sim dessas. Bom, como eu estava a dizer, as relações têm um tempo que é limitado embora variável: 1 minuto, 1 noite, 1 ano, 5 anos, 10 anos... 20 (?)... mais já será demais? Não digo com isto que um casal não possa estar junto muito tempo e até viver bem com isso, se bem que hesito quando penso acerca da verdade dessa relação. Sabes, a linha entre o amor e o hábito é ténue...

O segundo pressuposto, este sim inquestionável é o facto de precisarmos de nos relacionarmos constantemente, de sermos incapazes de estarmos e existirmos sozinhos. Ainda bem que assim é! É sinal de saúde! E mais, isto não implica que não precisemos de saber estar sozinhos de quando em vez, até sabe bem e é também bom indicador dessa mesma sanidade.
Agora, desde o momento em que nascemos até ao que morremos, estamos ávidos de relação. E não é só no humano que é assim. Desde a rola até ao saguim, da sardinha ao escaravelho, todos se relacionam e necessitam dessa relação.

Eis senão quando nos surge o mais grave problema da condição homo sapiens: "se eu preciso disto, e eu sei que isto acaba, o que é que eu vou fazer para contrariar uma ou ambas as premissas anteriores? Grande pincel!"

E não é que evoluímos para nos metermos nesta alhada!? Senão vejamos: primeiro não conseguíamos estar em pé, então desenvolvemo-nos para sermos erectus, assim podemos ter os braços livres para abraçar - tudo bem; depois precisámos de nos tornar habilis e construímos instrumentos, coisas, que permitiram que o outro se aproximasse mais de nós – super fixe! Mesmo assim não foi suficiente. Precisámos de mais, de sermos “sapiens”, espertalhões, para encontramos estratégias que fizessem com que os outros gostassem ainda mais de nós, com que não se afastassem de nós. E claro, inventámos truques, estratagemas e manigâncias. Como é óbvio, complicámos tudo.

A maior parte de nós não sabe disto, ou então já se esqueceu. Mas é só preciso gostar, sentir e deixar que gostem de nós. O Homem tem medo! Tem medo de gostar de mais e que gostem de menos. Tem medo de gostar de menos e depois tem culpa, tem medo porque tem medo e enlouquece porque os outros não gostam dele! Tudo muito complicado. Tudo muito muito! É preciso sair do buraco em que vivemos, sair do mundo em que não nos sabemos relacionar. Voltar ao tempo em que sabíamos brincar, sabíamos estar com o outro sem complicar. Só porque é demasiado bom “estar com”. Ter no amor, na paixão, na cumplicidade, na verdade, na partilha, na empatia, na adaptação e descoberta mútua os ingredientes de uma iguaria que se come a dois. Urge voltarmos a ser pequenos – sim, porque os pequenos sabem como se faz – para sermos mesmo sabendo que cada espaço de amor tem um fim. Só assim podemos degustar aquele que gosta de nós, que sabe ser, que sabe existir e que quer existir connosco. O máximo de tempo possível.

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