Somos um povo de regras. As coisas ou se podem ou não podem e caso se saia deste registo cai o carmo, a trindade e a portugália.
Lembrei-me disto por causa do caso da Alexandra, a menina russa que foi retirada da família de acolhimento e entregue à Mãe Rússia, literalmente. Não tenho muita paciência para comentar os casos da actualidade até porque corro o risco de entrar num registo sério e isso não interessa a ninguém. Mas é um bom exemplo da necessidade das regras do povo. Ora, a lei diz que tem de ser assim, então vamos fazer como mand'alei, mesmo que isso implique o caos psíquico provocado na criança. E não estou a falar das palmadas que levou da senhora sua mãe, esse é a mais suave das agressões.
Ora, onde cabe o bom senso na loucura das regras e das normas? Não cabe! Até porque para a generalidade das pessoas o contrário da lei é a anarquia. Mas não é, há o meio termo que é onde mora a sensatez, a clareza de espírito, o afecto e a possibilidade de se decidir em consciência. E se não o conseguimos fazer sozinhos, podemos sempre pedir ajuda. Na regra não haverá espaço para o debate e para a cooperação?
E as crianças? Se perguntarmos à generalidade das pessoas, as crianças precisam de regras e limites. Errado. As crianças precisam que lhes expliquem aquilo que devem ou não fazer, até porque elas não são estúpidas e incapazes de compreender as coisas. As crianças precisam de liberdade e de coerência acerca de como funcionam as coisas, a falta de coerência é que leva à tal anarquia. Não auto-determinada, mas imposta pela incompreensão do mundo que as rodeia.
A minha proposta é aquilo a que eu chamo o fenómeno bola de sabão. É a liberdade para voar para onde se quer, mas dentro de um espaço limitado, coerente, contentor, protector. Protegido posso ver o mundo, posso ligar-me a outras bolas quando as encontrar e nem sequer preciso que me imponham regras, porque para aquilo que é importante a lei não é necessária. "No amor e na guerra não há regras", no amor não é preciso regras.
quarta-feira, 3 de junho de 2009
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