segunda-feira, 20 de julho de 2009

Olé!

A tourada - aliás, tudo o que está ligado à tauromaquia - é muito engraçada. No fundo é como uma empresa com cargos, funções e hierarquias bem definidas. Baseia-se na lógica da hereditariedade e mantém os níveis de nobreza e de povo. Não quero com isto dizer que é arcaica. Embora o ache, não quero dizer.

Bom, nesta empresa temos Fornecedores, as ganadarias. As ganadarias são, basicamente, famílias ricas com terrenos. Ora estes terrenos têm bovinos, os quais são marcados com ferros em brasa. Isto só de si é brilhante, pelo menos para mim. Qualquer sujeito que utilize ferros em brasa na sua actividade profissional, merece o meu respeito, desde o padrinho da máfia até ao psicopata assassino. Ora o fornecedor fornece o touro, o Produto, mas já lá iremos.

Nesta empresa há os empregados mais baixos - Paquetes, Senhoras da limpeza, Meninas das fotocópias - que provavelmente estão a recibos verdes. Temos como expoente máximo destes trabalhadores precários, o campino, que tem como função andar no campo a bater com paus no produto. Parece simples mas não é. Tem uma técnica especial que só um funcionário experiente domina. São geralmente velhos, pouco instruídos e ganham mal. Têm especial prazer na sua actividade e por isso querem que os seus filhos sejam iguais a si, quem sabe subir até Empregados de escritório!

Há igualmente os Publicitários que são as praças de touros, as autarquias e as empresas que organizam as touradas. Anunciam o produto aos clientes, bem como anunciam os vendedores que vão fazer a demonstração do dito. Ganham bem e têm escolaridade. Parabéns!

Ora os Vendedores, são pessoas brutas do campo, mas que por uma qualquer razão têm um dom especial. Toda a gente sabe que o vendedor tem sempre uma grande converseta para conseguir impingir algo que ninguém quer. Ora este vendedor, o cavaleiro, é igual. Nasceu com uma apetência especial para andar a cavalo - ou então simplesmente passou a infância nas aulas de equitação - e domina o produto como ninguém. Aliás, isso é o que ele quer que nós pensemos. Na verdade ele domina o cavalo, este sim, que domina o touro, mas apenas porque é um pouco desagradável levar uma cornada do bicho. No fundo o cavaleiro é um caixeiro viajante a vender facas e tesouras de porta em porta, mas que ao chegar mete um Powerpoint - o cavalo - a fazer a demonstração.

Depois temos o forcado. Esse ser que não consegue ter o paleio do vendedor, mas que ao mesmo tempo é suficientemente escolarizado para não ser campino. É um funcionário vulgar, a vulgar Empregada de escritório que faz várias coisas, mas que também não se destaca, porque há muitos iguais a si. Tem uma vida pacata, um dia a dia normal, embebeda-se com frequência e descarrega as frustrações em sujeitos do nível social do campino ou em funcionários do mesmo nível, mas de empresas rivais. Só se dá pela existência de um forcado especifico, por bons ou maus motivos, isto é, por fazer uma grande pega ou levar uma cornada. Sinceramente tenho dificuldade em dizer qual das duas é a boa e a má. Estes indivíduos tendem a destacar-se, também, por se envolverem sexualmente com os vendedores, directores gerais ou clientes.

Depois temos os aficionados que são ao mesmo tempo os Directores gerais da empresa e os Clientes. E é por isso que este negócio não morre. Produzem e compram um produto que se rentabiliza a si mesmo com base na publicidade e em bons vendedores. É uma galinha dos ovos de ouro que dura, segundo me venho a aperceber, com maior pujança de dia para dia.

O Produto, esse, coitado... É um boi preto que anda literalmente de mão em mão até acabar feito num bife. Algo simples se este processo não fosse um espectáculo para muita gente que tem especial prazer em ver um animal ser queimado, espancado, gozado e espetado várias vezes. Pagam e recebem para isso...
Eu quando quero um bife vou ao frigorífico, porque alguém foi ao talho, porque alguém foi ao matadouro, porque alguém foi ao prado. Não me interessa quem, nem como. E se pensar muito nisso, não vejo nada de espectacular na coisa.

Sinceramente não sou anti-touradas ao ponto de me manifestar e me escandalizar. Até acho que me posso divertir com o espectáculo, não o do touro, o das pessoas.

Mas uma é certa, a favor também não sou.

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